Opinião: Um Mundo Infestado De Demónios por Carl Sagan

Um_Mundo_Infesta_4e1c83a730f16Nota introdutória: escrevi estas palavras há oito anos.

Estaremos no limiar de uma nova era de obscurantismo e superstição? Nesta obra excitante e controversa, Carl Sagan explica-nos por que razão o pensamento científico é essencial para a salvaguarda das nossas instituições democráticas e civilização tecnológica. Ao longo destas páginas, o autor desmonta alguns dos mais populares mitos e pretensões da pseudociência, refutando convincentemente o argumento de que a ciência destrói a espiritualidade.

Enriquecido por diversas histórias de inegável valor humano, Um Mundo Infestado de Demónios (The Demon-Haunted World), publicado na colecção Ciência Aberta da Gradiva, é talvez a mais pessoal das obras do cientista. Entre a evocação de experiências da sua infância e o relato de grandes aventuras e descobertas do conhecimento, Sagan mostra-nos de que modo o método do pensamento científico pode ajudar-nos a eliminar os preconceitos e a atingir uma verdade tantas vezes surpreendente.

Este é o texto de apresentação que a Gradiva sugere no seu site sobre o livro a que eu chamo de Bíblia. Este é um livro que [na altura] alterou verdadeiramente a minha forma de ver as coisas, a forma de olhar para a vida e a forma de, basicamente, pensar. Desde há muito tempo que sou fã de Sagan e já li praticamente tudo o que o génio da comunicação científica que ganhou inúmeros prémios internacionais escreveu.

Este, curiosamente, foi o último que li.

Foram necessários anos de leitura animada e de pensamentos revolucionariamente simples para eu, finalmente, descobrir o que penso ser a sua obra máxima. Sagan teve o seu expoente máximo (a nível de divulgação) com o projecto Cosmos, mas este livro é simplesmente magnífico porque tem o poder de mudar uma pessoa e isso não é comum a todos os livros. Sagan tem a versatilidade de agradar a gregos e a troianos porque, tal como o texto sugere, Sagan consegue unir o pensamento científico com a religião e, acima de tudo, a Fé.

Penso que se trata de um livro imperdível e aconselho-o a toda a gente que gosta de desafios porque com este livro conseguimos aprender a pensar, e não uso isto como metáfora porque é realmente uma obra que nos vai ajudar durante a vida toda dado que nos apresenta raciocínios de lógica e poder crítico essenciais para não cairmos no conto do vigário que muita gente anda por aí a tentar impor como verdade absoluta.

Uma visita rápida aos índices de capítulos do livro mostra-nos a variedade de temas abrangidos por esta tése, desde “Os Alienígenas” ao “A Arte de Detectar Disparates”. É um livro que nos apresenta exemplos concretos que aconteceram num passado mais distante mas também no presente e nos mostra como a sociedade dá muitas vezes importância a coisas que não são verdade e prejudicam o indivíduo e a sociedade.

Dois exemplos rápidos e simples:

  • Sabia que a percentagem de pessoas curadas pela Fé religiosa é exactamente a mesma que a percentagem de pessoas curadas através da toma de placebos?
  • Sabia que dois cientistas na década de 80 conseguiram enganar a população da Austrália e todos os seus média afirmando poder curar doentes. A realidade é que as pessoas doentes acreditaram com toda a sua fé que estavam a ser curadas pelos dois cientistas disfarçados. Mais! Os média nem se deram ao trabalho de averiguar a veracidade de suas identidades e feitos (todos falsos), bastaria um simples telefonema para um pavilhão nos Estados Unidos da América, onde os alegados curadores tinham dito ter feito uma reunião de cura memorável, para que esta experiência fosse descoberta. Os média nunca o fizeram e acreditaram em todas as informações que os curadores lhes deram. O fim desta história toda, aparentemente ridícula e impossível, é tão mirabulante como ela própria.

Não poderei acrescentar muito mais em relação a esta obra-prima do pensamento humano.

Nota: 5/5

GoodReads link.

Nota final: Quer a opinião quer a nota se mantêm inalteradas hoje, oito anos depois de ter lido este belo livro. Tenho lido outros similares que, embora tenham um conteúdo igualmente lovável, nunca chegam ao nível de expressão de Sagan. Aconselho-o para todas as idades porque nunca é tarde para pensar e saber.

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